Estória solta
Havia algumas mulheres como ela. Umas mesmo muito novas
A timidez paralisava-a e afastava-a do mundo dia após dia. E irritava-se por ser sempre tendencialmente simpática quando se cruzava com alguém, fosse conhecido ou desconhecido. Não era por amizade, mas sim para que não notassem a profunda depressão e por vezes o profundo desprezo que tinha por quase todos. Tinha feito uma lista de todos os seus conhecidos, com os pontos fortes e fracos de cada um deles. A conclusão era assustadora. Devia afastar-se de todos. Nada valia. Tudo parecia irrelevante.
Tinham-se passado 10 anos: ainda não tinha decidido o método nem tinha cortado todos os fios que a ligavam aos outros. Por nada queria ser criticada ou lembrada.
A sua morte não deveria ser sentida. Ninguém se poderia sentir culpado, mesmo tivessem contribuído para o resultado final. Era isso que tornava as coisas complicadas.
Mas tinha prometido a si mesma que por pior que estivesse não se deveria vingar.
Considerou deixar de falar e reduzir os gestos ao mínimo indispensável. Viver como um pastor, mas sem ovelhas. Criar um duplo para a substituir. Um com personalidade própria que vivesse, enquanto ela não punha termo à vida.
Entretanto o telefone tocou. Era o Ricardo a cancelar a explicação porque o teste tinha sido adiado. Isso permitiu-lhe desviar os pensamentos um pouco para aquele rapaz de olhar sincero que enganava facilmente os que o rodeavam. Não falava muito e os gestos eram suaves. Tinha a certeza que o Ricardo ficava com o dinheiro da explicação sempre que faltava. E os progressos não estavam a ser famosos.
O tempo passava e ela continuava a desperdiça-lo a pensar.
O tempo só parecia bem aproveitado quando estava a dormir. Aí fartava-se de conversar e fazer coisas fantásticas. No entanto, a cruel realidade é que a vida andava mais devagar do que ela sonhava. Queria sempre o amanhã e não conseguia preencher o hoje.
Naquele dia acordou decidida a contar o número de palavras que diria, reduzindo o seu discusos ao mínimo indispensável. Só falaria se viessem ter com ela.
Limitar-se-ia a viver como um monge, como que em meditação.
O esforço de comunicar com os outros estava a tornar-se insuportável, sobretudo porque fazia questão que ninguém notasse isso. Tinha pena de não saber desenhar.
Quando sentia saudades de comunicar assumia uma atitude passiva e passeava por alguns chats e foruns da internet. Era como um vício; um voyerismo desesperante que trazia um consolo breve semelhante a uma droga. Quando decidia desligar o computador sentia-se só.
A timidez paralisava-a e afastava-a do mundo dia após dia. E irritava-se por ser sempre tendencialmente simpática quando se cruzava com alguém, fosse conhecido ou desconhecido. Não era por amizade, mas sim para que não notassem a profunda depressão e por vezes o profundo desprezo que tinha por quase todos. Tinha feito uma lista de todos os seus conhecidos, com os pontos fortes e fracos de cada um deles. A conclusão era assustadora. Devia afastar-se de todos. Nada valia. Tudo parecia irrelevante.
Tinham-se passado 10 anos: ainda não tinha decidido o método nem tinha cortado todos os fios que a ligavam aos outros. Por nada queria ser criticada ou lembrada.
A sua morte não deveria ser sentida. Ninguém se poderia sentir culpado, mesmo tivessem contribuído para o resultado final. Era isso que tornava as coisas complicadas.
Mas tinha prometido a si mesma que por pior que estivesse não se deveria vingar.
Considerou deixar de falar e reduzir os gestos ao mínimo indispensável. Viver como um pastor, mas sem ovelhas. Criar um duplo para a substituir. Um com personalidade própria que vivesse, enquanto ela não punha termo à vida.
Entretanto o telefone tocou. Era o Ricardo a cancelar a explicação porque o teste tinha sido adiado. Isso permitiu-lhe desviar os pensamentos um pouco para aquele rapaz de olhar sincero que enganava facilmente os que o rodeavam. Não falava muito e os gestos eram suaves. Tinha a certeza que o Ricardo ficava com o dinheiro da explicação sempre que faltava. E os progressos não estavam a ser famosos.
O tempo passava e ela continuava a desperdiça-lo a pensar.
O tempo só parecia bem aproveitado quando estava a dormir. Aí fartava-se de conversar e fazer coisas fantásticas. No entanto, a cruel realidade é que a vida andava mais devagar do que ela sonhava. Queria sempre o amanhã e não conseguia preencher o hoje.
Naquele dia acordou decidida a contar o número de palavras que diria, reduzindo o seu discusos ao mínimo indispensável. Só falaria se viessem ter com ela.
Limitar-se-ia a viver como um monge, como que em meditação.
O esforço de comunicar com os outros estava a tornar-se insuportável, sobretudo porque fazia questão que ninguém notasse isso. Tinha pena de não saber desenhar.
Quando sentia saudades de comunicar assumia uma atitude passiva e passeava por alguns chats e foruns da internet. Era como um vício; um voyerismo desesperante que trazia um consolo breve semelhante a uma droga. Quando decidia desligar o computador sentia-se só.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home