30 janeiro 2004

Rua da Judiaria nos vai valendo

Pensei na
Rua da Judiaria e no Nuno Guerreiro quando vi ontem as imagens na televisão. Pensei/senti algo semelhante a ele e daí que tenha resolvido reproduzir o seu texto e prestar homenagem aos que morrem sem que ninguém se indigne. Hoje são eles, um dia podemos ser nós... Obrigado, Nuno, pelo texto que não tive tempo (nem engenho) para escrever.

Morrer em Diferido

Ninguém escreveu sobre os seus sorrisos. Ninguém lhes apontou as qualidades ou os defeitos. Não se reclamou contra a mediatização das suas mortes. Faltaram as câmaras em directo. Vítimas da banalização do sofrimento, no país que chorou Miklós Fehér, os dez mortos de Jerusalém recebem um encolher de ombros, como se o destino de morrer no autocarro 19, ontem antes das nove da manhã, na esquina das ruas Gaza e Arlozorov, lhes tivesse sido ditado justamente. Como se o ódio podesse alguma vez ser razão alguma. Como se a causa justa de um povo se podesse construir com alicerces assentes em eviscerados corpos inocentes.

Kadish Avraham (Albert) Balhasan, 28 anos; Rose Boneh, 39; Chana Bunder, 38; Anat Darom, 23; Octavian Floresco, 42; Natalia Gamril, 53; Baruch Hondiashvili, 38; Dana Itach, 24; Eli Zfira, 48; e Yehezkel Goldberg, 41.