16 fevereiro 2004

Companhia Olga Roriz - CÓDIGO MD8 (Excertos for future reference)

Sexta-passada fomos ver a Companhia Olga Roriz no Teatro Camões.
O que se segue são excertos das minhas memórias sobre a peça Código MD8 (Estas impressões são secretas e não são transmissíveis...).
Há muito que não gostava tanto de ver um espectáculo.
Surrealista Q.B. Profissional sem dúvida.

Música de Toni Amos, Jacques Brel, Astor Piazzola, Dromed, Amália Rodrigues, Gloria Gaynor, António Viegas e Wim Mertens.

Textos de Olga Roriz, Adriana Queiroz, Félix Lozano e Romeu Runa.

Desenho de Luz de Clemente Cuba

O espectáculo não começou a horas
mas isso já fazia parte do dito espectáculo...
Abertas as portas entrámos na sala de espectáculos do Teatro Camões já com os bailarinos/actores/cantores em palco a actuar.
Adriana Queiroz (AQ) à frente, no centro, deitada e a falar para um microfone, com uma voz sensual. Os outros cinco artistas distruibuídos pelo palco, a cantar, a falar, a vestir-se, a mexer-se, a fumar, etc.
O público ía-se sentando. Uns a sorrir, outros a ignorar o palco, outros desconfiados.
De vez em quando ouvia-se um ou mais dos artistas dizer, ora em português, ora em inglês, ora em francês:
LAMENTAMOS MAS ESTE CÓDIGO É SECRETO E INTRANSMISSÍVEL.
Tudo se faz e se desfaz, numa suspensão.
Tudo é rigorosamente possível de acontecer.
Só não se diz o que não se desprendeu da folha do diário.
O que não se vê, é uma existência ausente.
habitam-se todos os lugares comuns.
Ouvem-se as músicas preferidas, sem se saber porquê.
O cenário são os corpos em construção.
NÃO HÁ PRINCíPIO NEM FIM.

E de facto assim foi, sem princípio nem fim, numa sucessão de imagens, sons e sensações, canções e discursos really intertwined.

A páginas tantas Félix Lozano (o tipo de Madrid...) apresenta os bailarinos, referindo alguns detalhes da vida profissional e pessoal destes - o que não deixa de ser engraçado (não é com grassa, mas sim com graça...).
E depois FL põe-se no meio do palco a tentar explicar a peça e o que se vai passar. O discurso em Castellano é cativante e só mais tarde nos apercebemos que entretanto a bailarina Catarina Câmara (CC) já se despiu e está apenas em cuecas.
Recordo que Félix conta que haverá uma parte em playback em que Pedro Cal, vestido de travesti, cantará o 'I will survive'. Félix começa então a trautear a canção com um inglés tipicamente espanhol. (LOL)

Romeu Runa (RR) tem um papelão: discursa, canta, dançaa, dobra-se todo a contar umas piadas 'a la Solnado', improvisa, interage com o público (declarou o seu amor a uma senhora de cabelos brancos com rabo de cavalo e óculos pretos que falava muito bem inglês).
RR - I love you. I wanna marry you.
S - I don't want to marry you.
RR (em voz quase de falsete) - Why? Because I'm too skinny?

RR - Oh! We're having a dialogue!!!!!!!

RR dirigiu-se ao público em inglês com os seus I believe... (in Megastores, in the Internet, etc.) e pôs o público a dizer o que ele queria que dissessemos.

CC passou a vida a despir-se e a vestir-se e a 'embirrar' com os outros.
CC (Senta-se, depois de ter estado em pé, em cima de um banco, a fazer de Diva) - Isto não era assim, era para ser espectular... uma diva... (voz aborrecida)
CC (para o Félix, que se veio juntar a ela): Sai daqui, se queres protagonismo fala com o Tino, ou com a Olga... mas também eles não te vão ligar nenhuma.

CC (deitada e a ser massajada por Francisco Rosseau, falando com voz agastada) - Ai pára, assim não pode ser, já estou toda tensa.
FR puxou-a e repuxou-a, deitou-a na marquesa com movimentos violentos e decididos.
CC continuou a queixar-se.

CC conta um sonho, aos poucos e repetidamente. Primeiro cairam-lhe os pés (e os outros riam-se), depois as pernas, depois as nádegas (e os outros continuavam a rir-se), depois os braços, etc.
O sonho é contado dezenas de vezes, desde o princípio, até se chegar ao final.
CC - E depois (de cairem todos os pedaços do corpo) percebi que estava morta e todos riram menos uma pessoa, eu...

CC (termina de cantar para Félix, deitado no chão e ofegante) - Vá, esta é a tua deixa. Vá é aqui que tu me dás um beijo. Bom, vou recomeçaar (e recomeça a cantar mais uma ou duas vezes).

Todos estão preparados para uma corrida e RR 'grita': On your marks. Get Set. Go!
Depois de várias falsas partidas desatam todos a fazerem barulhos de automóveis, como se estivessem a conduzir um automóvel (pareciam uns míudos a brincar!) Uummmmmm Uummmmm....

Lá para o final 3 os homens despem-se todos (o travesti ficou de fora), escondendo o 'material' entre pernas. CC e AQ falam/cantam ao mesmo tempo, uma em francês e outra em português (creio?)

No final de muitas palmas o público começa a ir-se embora, mas os artistas continuam no palco arrumando as coisas, fumando, cantanto, tal como tinham feito no início.
Muitos dos espectadores saem sem ligar, outros saem a medo, outros como nós esperam que todos os artistas deixem o palco. RR foi o último a sair, e saíu cantando.

Bem e já não tenho mais tempo para continuar a escrever (que já roubei meia-hora ao meu almoço para escrever estas notas).
Isto foram só algumas 'impressões no shaker, plenas de sentimento'.

E para a semana lá estaremos outras vez no Teatro Camões a ver Olga Roriz (que sexta-feira passada subiu timidamente ao palco para agradecer as palmas).