08 junho 2004

Fábula dedicada aos quasi-doutores vistalegre...

Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu da sua toca com o note-book nas patinhas e, pôs-se a trabalhar, muito concentrado. Pouco depois passou por ali a raposa, e, viu aquele suculento coelhinho tão distraído, que até sentiu as pernas a tremer e a boca a começar a salivar. No entanto, ficou intrigada com a actividade do coelho e aproximou-se, curiosa:

- Coelhinho, o que é que estas a fazer aí, tão concentrado?

- Estou a escrever a minha tese de doutoramento - disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.

- Hummmm... e qual é o tema da tua tese?

- Ah!! É uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais das raposas. A raposa ficou indignada:

- O QUÊÊÊÊ ????????? Isso é ridículo!!! Nós é que somos os predadores dos coelhos!

- Negativo! Vem comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.

O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. De seguida, o coelho sai, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído, agradece mentalmente à Cadeia Alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando com aquela concentração toda. O lobo resolve então saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:

- Olá, jovem coelhinho! O que te faz trabalhar tão arduamente?

- A minha tese de doutoramento.

- Hummmm... Estou a perceber, e qual é o tema da tua tese?

- É uma teoria que venho a desenvolver há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.

O lobo não se conteve e, até se engasgava de riso com a petulância do coelho.

-Ah, ah, ah, ah!!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...

- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de me acompanhar à minha toca?

O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem dentro da toca. Alguns instantes depois ouve-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e... silêncio. Mais uma vez o coelho volta a sair, sozinho, impassível e de volta ao trabalho de escrever a sua tese, como se nada tivesse acontecido. Dentro da toca do coelho, vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e peles de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos,... ... um enorme LEÃO, satisfeito, bem
alimentado, a palitar os dentes.


> >MORAL DA HISTÓRIA > >

1. Não importa quão absurdo é o tema da tua tese

2. Não importa se ela não tem o mínimo de fundamento científico, moral ou prático

3. Não importa que os teus escritos nunca passem de teoria empírica

4. Não importa, nada mesmo, que as tuas ideias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...


5. O que importa é QUEM É O TEU ORIENTADOR !!!