É curioso mas não é simples
EU NÃO DISSE QUE OUTREM ESTAVA A DEFENDER CRIMINOSOS. Só disse que a questão não é "simples". E que no caso concreto da violência recente do Brasil, outros factores podem ser apontados como principais. Case in point: em Timor, a vaga de violência pode estar relacionada em parte (em grande parte!) com a pobreza, mas os motivos principais e directos são aparentemente lutas de poder dentro da hierarquia de Estado, bem como o aproveitamento por alguns do descontentamento de certas franjas das forças militar(izada)s que estavam em processo de ser desmanteladas.
O facto de existirem condições que "empurram" franjas da população para a criminalidade -e eu concordo que objectivamente elas existem- não implica a inevitabilidade dos actos criminosos. Especialmente num Estado de Direito, onde existe o primado da lei, não se pode admitir a legitimidade do banditismo. A lei tem de ser igual para todos. Concordo que nalgumas concepções mais revolucionárias, a violência seja uma "arma" possível, mas os ideólogos dessas correntes nunca aceitariam confundir isso com banditismo.
Mas como é óbvio, o desespero e a fome contribui para muita dessa violência. Penso que as pessoas que a praticam fazem-no muitas vezes conscientes que o risco é elevado e esse é um preço que estão dispostas a pagar. Mas não significa que seja correcto. Como também não é "correcto" o status quo que essas massas têm de enfrentar; como também são muitas vezes violentos e imorais os esquemas legais e ilegais que contribuem para a não-distribuição da riqueza a um nível confortavelmente acima dos patamares mínimos de subsistência e dignidade humana.
Esta questão, no contexto por exemplo da América Latina (e da Ásia Central), note-se é ainda mais complexa que isto, pois como é óbvio, muitas vezes não é claro para a população quem são os verdadeiros bandidos, se os traficantes que lhes constroem escolas e hospitais e lhes dão empregos decentes -ou dinheiro absolutamente vital para o sustento das suas famílias, pelo cultivo de certas plantas "medicinais"- ou os governantes que não lhes dão nada e que só lhes tiram.
Como está implícito no meu post anterior e neste que escrevo agora, o que transpira aqui são as opções morais e éticas dos indivíduos e da sociedade (Estado, grupos económicos, etc.), e esse infelizmente é o aspecto, na minha opinião, em que se tem investido menos em certos países ou regiões de países. Em parte a elevação dos indivíduos deveria ser conseguida, ou facilitada, pela Educação. Aliás, esse é no meu entender o factor decisivo em nações como a Holanda, Dinamarca e Suécia, em que a Educação contribui de facto para sociedades em que a cultura cívica é fomentada e alimentada pelo sistema, sendo que a justiça social surge como consequência natural (aqui estou naturalmente a simplificar). Mas já em França, onde o sistema de ensino -é sabido- se tem tornado progressivamente mais elitista, como o Fiambrelete aponta e bem, têm havido fortes sinais de desagregação, isto apesar das tais preocupações sociais do Estado francês.
É curioso que isto de apostar na Educação não é uma proposta nova mas como é sabido implementar as necessárias reformas não é simples...
Alberto Terego
O facto de existirem condições que "empurram" franjas da população para a criminalidade -e eu concordo que objectivamente elas existem- não implica a inevitabilidade dos actos criminosos. Especialmente num Estado de Direito, onde existe o primado da lei, não se pode admitir a legitimidade do banditismo. A lei tem de ser igual para todos. Concordo que nalgumas concepções mais revolucionárias, a violência seja uma "arma" possível, mas os ideólogos dessas correntes nunca aceitariam confundir isso com banditismo.
Mas como é óbvio, o desespero e a fome contribui para muita dessa violência. Penso que as pessoas que a praticam fazem-no muitas vezes conscientes que o risco é elevado e esse é um preço que estão dispostas a pagar. Mas não significa que seja correcto. Como também não é "correcto" o status quo que essas massas têm de enfrentar; como também são muitas vezes violentos e imorais os esquemas legais e ilegais que contribuem para a não-distribuição da riqueza a um nível confortavelmente acima dos patamares mínimos de subsistência e dignidade humana.
Esta questão, no contexto por exemplo da América Latina (e da Ásia Central), note-se é ainda mais complexa que isto, pois como é óbvio, muitas vezes não é claro para a população quem são os verdadeiros bandidos, se os traficantes que lhes constroem escolas e hospitais e lhes dão empregos decentes -ou dinheiro absolutamente vital para o sustento das suas famílias, pelo cultivo de certas plantas "medicinais"- ou os governantes que não lhes dão nada e que só lhes tiram.
Como está implícito no meu post anterior e neste que escrevo agora, o que transpira aqui são as opções morais e éticas dos indivíduos e da sociedade (Estado, grupos económicos, etc.), e esse infelizmente é o aspecto, na minha opinião, em que se tem investido menos em certos países ou regiões de países. Em parte a elevação dos indivíduos deveria ser conseguida, ou facilitada, pela Educação. Aliás, esse é no meu entender o factor decisivo em nações como a Holanda, Dinamarca e Suécia, em que a Educação contribui de facto para sociedades em que a cultura cívica é fomentada e alimentada pelo sistema, sendo que a justiça social surge como consequência natural (aqui estou naturalmente a simplificar). Mas já em França, onde o sistema de ensino -é sabido- se tem tornado progressivamente mais elitista, como o Fiambrelete aponta e bem, têm havido fortes sinais de desagregação, isto apesar das tais preocupações sociais do Estado francês.
É curioso que isto de apostar na Educação não é uma proposta nova mas como é sabido implementar as necessárias reformas não é simples...
Alberto Terego
1 Comments:
eu tenho muito a dizer sobre este assunto mas falta-me tempo.
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