10 setembro 2007

Aberrações, parte 2

Que é estranha a sobre-mediatização deste caso em particular, é. Isso pode ter que ver com uma alegada relação de amizade com o PM britânico que pode ter dado logo de início uma exposição mediática ao caso que de outra forma não teria (amizade alegadamente a nível de amigos comuns; mas este factor pode ser mais um dos boatos do caso, é claro...)

Ou seja: é óbvio que aqui houve claramente um efeito de bola de neve. Suponho que se na semana do desaparecimento estivesse a decorrer o Mundial de futebol, ou se se tivesse iniciado uma guerra no Médio Oriente, ou se morresse o Papa ou o Fidel, que a importância mediática do mesmo teria morrido à nascença.

Mas quanto mais se falou se início mais... havia para falar, nem que fosse falar sobre o que se falou anteriormente ou alegadamente se falou nos questionários, construindo um corpo de notícias em torno de "não-eventos". A notícia aliás era por vezes... notar o facto do circo mediático que se tinha gerado (e depois o seu gradual desvanecimento. E depois o seu reaparecimento). Depois os pais -se convictos que a menina foi raptada- podem-se ter sinceramente convencido que a mediatização poderia ajudá-los a reencontrá-la, o que ainda alimentou mais a Media Frenzy.

No entanto, poderá haver aqui um factor extra, que é difícil de explicar e que poderá estar muito no sub-consciente das pessoas, suponho que até mais de pessoas que têm filhos: há uma espécie de fobia, de pânico latente que muitos pais têm (em graus diferentes, naturalmente) quanto a saberem em permanência o paradeiro da sua prole. E o medo implícito que os filhos desapareçam. É mais forte que eles. Daí que um caso destes toque num nervo sensível de muita gente (mesmo que não o verbalize ou até o consciencialize). O mesmo se aplica aliás a outros casos de desaparecimento de menores, cuja mediatização contudo não foi tão alimentada pelos media. O que não significa que não desperte o mesmo tipo de sentimentos.

Alberto Terego