18 janeiro 2007

Ía pôr isto em comentário mas já estava a ficar longo demais...

Há uns anos a Time propôs a eleição da figura do século. O mais votado a uma dada altura era... Kemal Ataturk, o "pai" do nacionalismo turco. Notem um apelo que na altura estava a ser feito...

Acabei por não saber qual a evolução da votação, mas era óbvio que os turcos se haviam mobilizado para votar em massa no seu amado ex-lider. No final ganhou Einstein o "Person of the Century"; é interessante notar como na categoria de "líderes e revolucionários" a "poll" final junto do público de facto colocava Churchill com uma vitória à tangente sobre Ataturk...

Tudo isto para fazer o paralelo com o "nosso" (salvo seja) Salazar. Em primeiro lugar, podem-se de facto tentar encontrar semelhanças e diferenças entre tais personagens: ambos considerados "salvadores da Pátria" a uma dada altura; ambos líderes autoritários; ambos responsáveis directos e/ou indirectos pela morte de outros -embora aqui acho que a palavra "assassino" aplicada a Salazar seja historica e juridicamente "exagerada". Cada vida aliás é preciosa, mas algo que se costuma dizer que separa os líderes fascistas Salazar de outros que tais como Franco, Mussolini e Hitler é de facto a situação do primeiro ter sido proporcionalmente muito mais "brando". Embora insisto, cada vida é preciosa de per se; e além disso: pode não se matar mas destruír a vida de uma pessoa, como Salazar fez comprovadamente a milhares de seres humanos. Mas voltando a Ataturk: é de notar o paralelo isso sim mais com Hitler e Staline, com o tristemente famoso e controverso genocídio dos arménios, e já agora das comunidades gragas que viviam na Anatólia.

Voltando então ao nosso caso concreto, como se devem lembrar, a lista original da RTP (que acho que funcionava mais como uma lista de "sugestões") excluia Salazar, o que levou a uma grande polémica e a duas consequências:
- a mobilização dos apoiadores de Salazar;
- a inclusão posterior do nome dele na lista de sugestões, o que obviamente aumentou a sua visibilidade.

Ao mesmo tempo pelos blogues percebe-se que a RTP tem "receio" que "Salazar" ganhe, e sendo assim não me admira que isso tenha um perverso efeito catalizador no sentido de mais pessoas votarem nele: quer os verdadeiros apoiantes de Salazar (e aqui, em democracia, há que permitir que as pessoas manifestem a sua preferência por ele, tanto mais que houve um grupo de pessoas, talvez assim não tão pequeno como isso, que beneficiou de facto com o seu regime; e assim deve haver tanto direito de escolher Salazar como Cunhal, sendo que a preferência por Cunhal também gera "anti-corpos"), quer aqueles que se querem divertir um pouco com a brincadeira de mau gosto que seria Salazar ganhar o concurso...

Dito isto, acho que as coisas valem o que valem, especialmente neste tipo de votações a €0.60 por sms... Quando andava na Faculdade havia um programa chamado "Agora escolha" e inúmeras vezes havia que escolher entre um episódio do "Barco do Amor" e o "Espaço 1999". Para mim, isso nem implicava uma "escolha", pela minha lógica a decisão só poderia ser uma. E lá vinha eu a correr para casa para ver mais um episódio em que o Capitão Koenig certamente iria encontrar mais uma maneira inteligente e engenhosa de prolongar por mais um pouco a improvável e lunática viagem dos habitantes da Base Alpha pelo oceano sideral só para verificar que... os telespectadores tinham preferido as trivialidades fúteis daquile navio de cruzeiro... Mas pronto, era aborrecido e frustrante, mas isso nunca tornou o Love Boat melhor que o Space 1999.

Ou seja: mesmo que o Salazar ganhe, so what? Certamente que o Ataturk também NÃO FOI a segunda personalidade política do século XX.

Alberto Terego

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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Achei curioso o juridicamente "exagerado" pois pode-se sempre fazer uma lei em que se permite matar pessoas pelo seu credo político ou por ataque público à figura do chefe mas essa lei não deixa de ser errada, o acto de matar as pessoa assassinato. Na verdade quando se exclui a pena de morte é, no meu entender, também por se conotar a pena de morte com assassínio. Embora Salazar não deva ter mortoninguém ele próprio, ele era o mandante o que o torna tão assassino como por exemplo o Rosa Casaco.

10:28 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Errata:
...o acto de matar pessoas é sempre assassinato...

10:30 da manhã  
Blogger Mother Goose said...

A mim, o que faz confusão, não é saber quem ganha mas quem leva o prémio para casa!!!
Isto porque na lista dos 10 Magníficos não consta nenhum vivo!!

:-p

12:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fiambrelete, já sabes que não sou jurista, mas aqui o termo mais abrangente pode ser "homicídio". Ao enviar centenas para o Tarrafal e permitir (ou não impedir) frigideiras e outras coisas que tais, então pode ser culpado de homicidio, nem que seja por negligência (mas como sabes é muitas vezes trazer políticos à barra dos tribunais: veja-se o caso de Pinochet...)

Quanto à questão de ele ser "assassino" (no sentido de "mandar matar"), pôs-se essa questão por exº no caso de Humberto Delgado, mas pensa-se que a Pide terá agido por conta própria. "Pensa-se", logo isso não exclui que ele possa ter na mesma ordenado (ou "sugerido" de forma implícita o interesse do desaparecimento de HD a um inferior hierarquico, que depois pode ter querido "mostrar trabalho") esse assassínio, ou outros.

Pode dar-se outro exº: pensa-se que Salazar é que propiciou a que Cunhal fugisse da prisão. Não só Salazar admirava Cunhal, como pode ter achado que Cunhal era "um mal menor", ou seja, que ter um intelectual pacifista e extremamente inteligente à frente do PCP era melhor que outro tipo de líder, por exº virado para a luta armada. Pode ter sido por essa razão cínica, mas o que é facto é que Salazar não mandou de facto mandar Cunhal (que se saiba).

Voltando então ao termo "assassino" aplicado a Salazar: não tenho a certeza que isso tenha sido provado, por exº, em Tribunal, que é o que o tornaria "juridicamente" assassino. Claro que o que está aqui em causa também é o "julgamento da História", que fez de Hitler, Estaline e outros "assassinos" brutais, logo não estou a excluír que ele o seja, mas penso que de forma "neutra" neste momento podem haver dúvidas "juridicas" (que como é óbvio não trazem essas pessoas de volta à vida).

2:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Errata:
(mas como sabes é muitas vezes DIFÍCIL trazer políticos à barra dos tribunais: veja-se o caso de Pinochet...)

2:14 da tarde  

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