09 abril 2007

Percurso académico de Sócrates «é exemplar»

Curiosamente, na descrição que Mariano Gago faz do curriculum exemplar de Sócrates, nada é dito sobre a tal "Pós-Graduação em Engenharia Sanitária"... Será que isso agora acabou por ser limpo do curriculum??
Dr Matt Cunha

PS- posso estar a cometer aqui uma injustiça: não sei se o tal MBA é afinal a tal pós-graduação em Eng. Sanitária. Em princípio não. Mas então é possível que a pós-graduação não seja mencionada por ser irrelevante. Isto leva-me a notar -numa rara mudança de postura- que é preciso ver que se podem estar a cometer excessos na apreciação desta matéria. Em dois aspectos específicos.

Em 1º lugar, a bronca da Independente é a suspeita de desvio de fundos, tráfico de diamentes e influências. Trata-se de um possível caso de fraude que já tem sucedido às instituições mais respeitáveis. Quanto ao possível facilitismo pedagógico, supostamente já tinham havido inspecções, e se fecharam os olhos a alguma coisa, seria bom que agora se apurasse isso, mas insisto que o que está em causa aqui é um caso de suspeita de burla financeira. Ou seja, misturar a fraude com as dúvidas do diploma de Sócrates é forçado. Eu sei que 2 frases atrás eu escrevi "tráfico de influências", mas parece-me forçado na mesma fazer essa associação de idéias no caso concreto de Sócrates, o que tem sido feito com alguma ligeireza por algumas fontes jornalísticas, mas que pode ter custado muito ao país (em função da iminente presidência da UE e da importância do factor credibilidade).

Quanto ao suposto diploma com data de domingo, tanto pode ser um erro burro do escrivão, como pode ser um acto legítimo do Reitor, que não o deixa de ser ao domingo, como pode ser meramente uma data formal. O diploma de doutoramento do Alberto Terego tem a data oficial do final do ano lectivo da respectiva universidade americana, que neste caso ocorreu num sábado, em que obviamente as secretarias estão fechadas.

Em 2º lugar: para quem está a trabalhar noutra actividade (política ou não) é sempre meritório acabar os estudos em regime pós-laboral (e aqui sou sensível ao argumento de M. Gago, que contudo me soa mais a coisa de spin doctor que outra coisa), que é o que a Independente pelos vistos facultava. Se é mais fácil tirar o 10 na Universidade A do que na Universidade B... isso é um facto que se passa mesmo nas Universidades públicas. Daí uma necessidade de: a) avaliar seriamente as Universidades; b) valorizar as boas universidades, por se perceber que a média de 16 na Universidade X pode ter menos valor que o 14 na Universidade Y. Isto está obviamente na mão dos empregadores, e instituições oficiais, que facilmente poderiam constituír fórmulas de avaliação que ponderassem a nota individual e a instituição. Isso faria que TODOS os actores -alunos e professores- duma instituição tocassem a reunir na defesa do prestígio e ranking da sua Escola. Como é que pensam que o MIT, Harvard e outros defendem a sua posição prestigiada? Mas em Portugal não se premia o mérito, estimula-se a competição fratrícida interna e ignora-se (ou sabota-se) arrogantemente as contribuições de outrem, especialmente "se me fizerem sombra a mim", ou meramente "se não tiver sido eu a dar a idéia". Ou seja, e para refocar no assunto em causa, em Portugal frequentemente as pessoas não tratam dos assuntos com seriedade, que é afinal o que está em causa nesta apreciação do caso do diploma de Sócrates: quer a "seriedade" (em opisição a "ligeireza") dos jornalistas e analistas, bem como -para não sermos ingénuos- a seriedade que deve acompanhar a obtenção dum grau académico e a posterior colocação de informações nos Curricula.

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