Direito de resposta (continuação)
A saga continua.
Transcrevo para aqui o comentário ao nosso post sobre alguns espectáculos que vimos em Junho.
Anónimo disse...
Vários erros ocorrem do seu comentário, pelo que um pouco de sageza é necessária:
1º Não me referi ao que estava a comentar, pelo que achar que estou a falar de Montanha ou Metanoite, é um pouco abusador.
2º Não chamei estupido a ninguém (bem sabendo que a captatio malevolentiae sujeita-se a sobreinterpretações). A ditadura invisível era uma referência a Foucault, mas como isso não lhe deve interessar nada, respondo então em jeito popular (sabendo que recorrendo às 'massas' incorro numa captatio benevolentiae): só se pica quem tem picos. E atenção que o problema das 'massas' não é a quantidade, mas a habilidade de estar al dente.
3º A ditadura do 'porque eu acho' é sinónimo de mediocridade. O texto não prestava porquê? Porque não tinha trocadilhos? Porque não era surrealista? Porque não tinha a Alexandra Lencastre? Ou o Alexandre Frota?
4º A música era repetitiva. Ora, talvez antes fosse. Todos nós (os que sabemos música) conhecemos a estrutura da música Pop. Não é ela senão repetição. C'est toujours la meme chanson. E é nessa repetição que age o efeito catártico. Glass descobriu, Reich descobriu etc. E pelos vistos a srª ainda não. Mas bom, pelo menos tem um blog. Eles outras coisas terão. Graças a Deus quem está no poder ainda se vai apercebendo quem tem direito a um blog e quem direito a outras coisas (nem melhores nem piores, diferentes).
5º Um cavalo é forma. Analisar um espectáculo pela forma, é vicio de amador da tv. Para além de dois olhos e de um traseiro, o ser humano foi dotado de um cérebro. Diria a Oprah (e como ela é básica): Deixar de usar o que nos custou tanto desenvolver, é um crime inter-passivo a que não nos devemos dar ao luxo. Forma e conteúdo funcionam em parelha. Conceptualidade é diferente de conceptualismo. O problema do homem inter-passivo é que não se reconhece. Não reconhece que se veste mal, que come mal etc. Isso transportado para situações de espectáculos, leva esse mesmo sujeito a não reconhecer que não percebeu o que lhe foi proposto, e assim, qual julgador de Cristo, aponta para a obra e diz: Aquilo falhou, não quer dizer nada, não presta, é vaga, é intelectual, étudo. Pois o problema não é da dita obra, mas de quem não a percebeu. O humano desculpa-se de tudo porque não ter consciência de si. Tem medo. Quer ser o super-homem. Well, bad luck. Isso é ficção.
6º Sobre a proibição: Eu acho que as pessoas são más. Esta maldade advém de uma não humildade e capacidade de reconhecimento do outro. As pessoas não estão dotadas de paciência e de amor. Eu não choro pela morte de Saddam nem pela morte de Hitler. Eles foram indicados pelo povo como sendo 'o certo'. O espectáculo 9 a Montanha e Metanoite são indicados como 'o errado'. Como tal não chorarei pela morte de Florgrella que prefere a interpassividade de uma falsa dança indiana (a india tem várias realidades, não devemos respeitar a imposição racista do estereotipo), que prefere o e cito o racismo 'grupo de brasileiros de raça negra que dançavam e cantavam fantasticamente', que prefere o XL e diz que o baterista não fica atrás (um paradoxo divertido, quando na verdade em termos espaciais o baterista fica sempre atrás), e que acha que os XL FEMME conseguiram um espéctaculo que 'funciona sempre' (já agora, vá-me mantendo informado), que prefere tudo isto, dizia eu, á potencialidade extrema da alta cultura humanista ocidental, só pode gostar da frase de Hitler: "Agora, meus caros, já não temos vergonha de ser analfabetos".
7º Já viu o futuro e a projecção de um trabalho como '9'? Já viu trabalhos dos criadores das óperas? Já leu livros do programador? Por acaso não reconheceu o Giorgio Agamben por entre o público?
Para finalizar: Sei bem que nada disto lhe mudará a vida, mas ajuda-me muito. Continuo com a certeza de que as pessoas são más, que a carne humana, assim como o tal bife do Speakeasy, é dura de roer.
Seja feliz,
Martim d'Almeida
P.S. Por favor, nunca chegue ao poder.
FlorGrela responde...
Começando pela última frase, tenho a dizer-lhe que não se preocupe. Não busco o poder. Em todo o caso, no dia em que sentir que não há liberdade de expressão, é certo que lutarei.
Tenho pena de, por ora, não ter grande tempo de lhe responder. Penso ainda que se a conversa fosse cara-a-cara talvez houvesse menos acrimónia (do seu lado). E talvez desse para perceber melhor o nosso ponto de vista. Quem sabe também verificaria que não somos tão burritos como lhe pareceu à primeira vista.
Enfim, quem sabe um dia nos encontraremos num espectáculo ou noutro sítio qualquer e possamos discutir pontos de vista e sentimentos.
Adiante.
Vou comentar um ou outro ponto do seu comentário, não querendo isto dizer que não houvesse muito a dizer sobre os outros. Fica ao seu critério ‘julgar’ as minhas omissões, pois parece-me que o fará. Eu estou de consciência tranquila.
1) Não é pelo facto de tal ou tal pessoa estar na plateia que o espectáculo se torna melhor ou pior. Sei bem que a Olga Roriz e o Mark Deputter estavam no “9”. So what? Rui Vilar da Gulbenkian estava no espectáculo das Óperas. So what? Por essa ordem de ideias os concertos da Gulbenkian são sempre fantásticos, pois estão sempre lá políticos, empresários, intelectuais, etc. Penso que há que dar um pouco mais de crédito ao maestro, à orquestra e às obras em si, não?
2) O conhecer ou não a obra dos autores das obras não implica que goste de todos os espectáculos por eles produzidos. Ou implica?
3) Eu não choro a morte de Saddam nem de Hitler, mas choro por quem acha que a pena de morte devia existir. Não chore pela FlorGrela, não há necessidade. Devo dizer que esta personagem não tem toques facistas, embora uma ou outra vez tenha 'abusado' do poder (por ser administradora do blogue) e tenha mudado o template e feito outras atrocidades do género... hehehe
4) O comentário supostamente racista que fiz, não o é. Isto pelo simples facto que foi assim que eles se apresentaram, sem complexos nem medos.
5) O baterista estava ao lado da cantora dos XL Femmes, pois o palco é minúsculo. Atrás estava o ‘baixo’.
6) Gostei do trocadilho das “massas”. I don’t take it personally.
7) Tenho vários discos de Glass (mas isso deve ser crime, pelo seu efeito catártico). Estou agora a ouvir “Christus am Olberge” (isto já deve ser melhor, embora se calhar ainda é pouco erudito, não? Beethoven é para os ‘fracos’. Temos é que ouvir Freitas Branco, Frederico de Freitas, Sérgio Azevedo, etc.)
8) Eu não disse que os espectáculos que não gostei eram errados. Até acho que podem e devem existir. Por um lado, há quem goste, por outro há quem depois aprecie melhor outros espectáculos. Viu, por acaso, o “It’s not funny” da coreógrafa Meg Stuart, no CCB? Muito bom (mais uma vez, na minha opinião).
Para terminar, gostaria de referir que este blogue foi criado por amigos e para nós próprios. Se se der ao trabalho verificará que somos um grupo heterogéneo (a tal ponto que cada um de nós lida com várias personagens, cada uma com a sua personalidade). Uns são de direita, outros de esquerda. Uns adoram futebol, outros nem tanto. Uns não ligam a espectáculos, outros não passam sem eles.
Da discussão nasce a luz e dia a dia vamos aprendendo uns com os outros e assim é que somos felizes.
Não gostamos de estar só com os que nos bajulam e de ver só aquilo que sabemos ser considerado o correcto pelo grupo onde nos inserimos (seja ele +/- intelectual ou +/- analfabeto).
Bem haja
FlorGrela Estampa, Irmã Gina São, José Seramigo, José Seramargo e Agente Ultra-Secreto 0,07
P.S. – A sua referência a “todos nós (os que sabemos música)” deu-me vontade de lhe perguntar se acha que só quem sabe de música deve ser ‘autorizado’ a ter opinião. É que se assim for, sinto-me tentada a perguntar-lhe qual foi a sua classificação em Formação Musical. É que, por acaso, eu tive 19 valores no 8º grau de Formação Musical… ;-)
Transcrevo para aqui o comentário ao nosso post sobre alguns espectáculos que vimos em Junho.
Anónimo disse...
Vários erros ocorrem do seu comentário, pelo que um pouco de sageza é necessária:
1º Não me referi ao que estava a comentar, pelo que achar que estou a falar de Montanha ou Metanoite, é um pouco abusador.
2º Não chamei estupido a ninguém (bem sabendo que a captatio malevolentiae sujeita-se a sobreinterpretações). A ditadura invisível era uma referência a Foucault, mas como isso não lhe deve interessar nada, respondo então em jeito popular (sabendo que recorrendo às 'massas' incorro numa captatio benevolentiae): só se pica quem tem picos. E atenção que o problema das 'massas' não é a quantidade, mas a habilidade de estar al dente.
3º A ditadura do 'porque eu acho' é sinónimo de mediocridade. O texto não prestava porquê? Porque não tinha trocadilhos? Porque não era surrealista? Porque não tinha a Alexandra Lencastre? Ou o Alexandre Frota?
4º A música era repetitiva. Ora, talvez antes fosse. Todos nós (os que sabemos música) conhecemos a estrutura da música Pop. Não é ela senão repetição. C'est toujours la meme chanson. E é nessa repetição que age o efeito catártico. Glass descobriu, Reich descobriu etc. E pelos vistos a srª ainda não. Mas bom, pelo menos tem um blog. Eles outras coisas terão. Graças a Deus quem está no poder ainda se vai apercebendo quem tem direito a um blog e quem direito a outras coisas (nem melhores nem piores, diferentes).
5º Um cavalo é forma. Analisar um espectáculo pela forma, é vicio de amador da tv. Para além de dois olhos e de um traseiro, o ser humano foi dotado de um cérebro. Diria a Oprah (e como ela é básica): Deixar de usar o que nos custou tanto desenvolver, é um crime inter-passivo a que não nos devemos dar ao luxo. Forma e conteúdo funcionam em parelha. Conceptualidade é diferente de conceptualismo. O problema do homem inter-passivo é que não se reconhece. Não reconhece que se veste mal, que come mal etc. Isso transportado para situações de espectáculos, leva esse mesmo sujeito a não reconhecer que não percebeu o que lhe foi proposto, e assim, qual julgador de Cristo, aponta para a obra e diz: Aquilo falhou, não quer dizer nada, não presta, é vaga, é intelectual, étudo. Pois o problema não é da dita obra, mas de quem não a percebeu. O humano desculpa-se de tudo porque não ter consciência de si. Tem medo. Quer ser o super-homem. Well, bad luck. Isso é ficção.
6º Sobre a proibição: Eu acho que as pessoas são más. Esta maldade advém de uma não humildade e capacidade de reconhecimento do outro. As pessoas não estão dotadas de paciência e de amor. Eu não choro pela morte de Saddam nem pela morte de Hitler. Eles foram indicados pelo povo como sendo 'o certo'. O espectáculo 9 a Montanha e Metanoite são indicados como 'o errado'. Como tal não chorarei pela morte de Florgrella que prefere a interpassividade de uma falsa dança indiana (a india tem várias realidades, não devemos respeitar a imposição racista do estereotipo), que prefere o e cito o racismo 'grupo de brasileiros de raça negra que dançavam e cantavam fantasticamente', que prefere o XL e diz que o baterista não fica atrás (um paradoxo divertido, quando na verdade em termos espaciais o baterista fica sempre atrás), e que acha que os XL FEMME conseguiram um espéctaculo que 'funciona sempre' (já agora, vá-me mantendo informado), que prefere tudo isto, dizia eu, á potencialidade extrema da alta cultura humanista ocidental, só pode gostar da frase de Hitler: "Agora, meus caros, já não temos vergonha de ser analfabetos".
7º Já viu o futuro e a projecção de um trabalho como '9'? Já viu trabalhos dos criadores das óperas? Já leu livros do programador? Por acaso não reconheceu o Giorgio Agamben por entre o público?
Para finalizar: Sei bem que nada disto lhe mudará a vida, mas ajuda-me muito. Continuo com a certeza de que as pessoas são más, que a carne humana, assim como o tal bife do Speakeasy, é dura de roer.
Seja feliz,
Martim d'Almeida
P.S. Por favor, nunca chegue ao poder.
FlorGrela responde...
Começando pela última frase, tenho a dizer-lhe que não se preocupe. Não busco o poder. Em todo o caso, no dia em que sentir que não há liberdade de expressão, é certo que lutarei.
Tenho pena de, por ora, não ter grande tempo de lhe responder. Penso ainda que se a conversa fosse cara-a-cara talvez houvesse menos acrimónia (do seu lado). E talvez desse para perceber melhor o nosso ponto de vista. Quem sabe também verificaria que não somos tão burritos como lhe pareceu à primeira vista.
Enfim, quem sabe um dia nos encontraremos num espectáculo ou noutro sítio qualquer e possamos discutir pontos de vista e sentimentos.
Adiante.
Vou comentar um ou outro ponto do seu comentário, não querendo isto dizer que não houvesse muito a dizer sobre os outros. Fica ao seu critério ‘julgar’ as minhas omissões, pois parece-me que o fará. Eu estou de consciência tranquila.
1) Não é pelo facto de tal ou tal pessoa estar na plateia que o espectáculo se torna melhor ou pior. Sei bem que a Olga Roriz e o Mark Deputter estavam no “9”. So what? Rui Vilar da Gulbenkian estava no espectáculo das Óperas. So what? Por essa ordem de ideias os concertos da Gulbenkian são sempre fantásticos, pois estão sempre lá políticos, empresários, intelectuais, etc. Penso que há que dar um pouco mais de crédito ao maestro, à orquestra e às obras em si, não?
2) O conhecer ou não a obra dos autores das obras não implica que goste de todos os espectáculos por eles produzidos. Ou implica?
3) Eu não choro a morte de Saddam nem de Hitler, mas choro por quem acha que a pena de morte devia existir. Não chore pela FlorGrela, não há necessidade. Devo dizer que esta personagem não tem toques facistas, embora uma ou outra vez tenha 'abusado' do poder (por ser administradora do blogue) e tenha mudado o template e feito outras atrocidades do género... hehehe
4) O comentário supostamente racista que fiz, não o é. Isto pelo simples facto que foi assim que eles se apresentaram, sem complexos nem medos.
5) O baterista estava ao lado da cantora dos XL Femmes, pois o palco é minúsculo. Atrás estava o ‘baixo’.
6) Gostei do trocadilho das “massas”. I don’t take it personally.
7) Tenho vários discos de Glass (mas isso deve ser crime, pelo seu efeito catártico). Estou agora a ouvir “Christus am Olberge” (isto já deve ser melhor, embora se calhar ainda é pouco erudito, não? Beethoven é para os ‘fracos’. Temos é que ouvir Freitas Branco, Frederico de Freitas, Sérgio Azevedo, etc.)
8) Eu não disse que os espectáculos que não gostei eram errados. Até acho que podem e devem existir. Por um lado, há quem goste, por outro há quem depois aprecie melhor outros espectáculos. Viu, por acaso, o “It’s not funny” da coreógrafa Meg Stuart, no CCB? Muito bom (mais uma vez, na minha opinião).
Para terminar, gostaria de referir que este blogue foi criado por amigos e para nós próprios. Se se der ao trabalho verificará que somos um grupo heterogéneo (a tal ponto que cada um de nós lida com várias personagens, cada uma com a sua personalidade). Uns são de direita, outros de esquerda. Uns adoram futebol, outros nem tanto. Uns não ligam a espectáculos, outros não passam sem eles.
Da discussão nasce a luz e dia a dia vamos aprendendo uns com os outros e assim é que somos felizes.
Não gostamos de estar só com os que nos bajulam e de ver só aquilo que sabemos ser considerado o correcto pelo grupo onde nos inserimos (seja ele +/- intelectual ou +/- analfabeto).
Bem haja
FlorGrela Estampa, Irmã Gina São, José Seramigo, José Seramargo e Agente Ultra-Secreto 0,07
P.S. – A sua referência a “todos nós (os que sabemos música)” deu-me vontade de lhe perguntar se acha que só quem sabe de música deve ser ‘autorizado’ a ter opinião. É que se assim for, sinto-me tentada a perguntar-lhe qual foi a sua classificação em Formação Musical. É que, por acaso, eu tive 19 valores no 8º grau de Formação Musical… ;-)
Etiquetas: Arte, Divulgação, Espectáculos, Histórias Pessoais
1 Comments:
Ah, esta tradição de usar as caixas de comentários dos blogues para comentérios dissonantes...
Ó Florgrela, o facto de isso também acontecer ao VA... é bom sinal!!
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